Fico indo e voltando nessa vontade de escrever para os outros.
Só porque eu acho que eles existem, esperando para ler.
E quando penso nesses outros, penso que já sabem tudo o que eu tenho para dizer.
Já leram de outras fontes, mais confiáveis e que escrevem melhor.
Antes de ir para o fim, volto no começo e paro.
Fico indo e voltando nessa busca de algo novo, nunca dito.
Se não fizer isso, vou perder o tempo do outro.
E perder o meu tempo, já que escrevo para os outros.
Desisto.
Então me dou conta de que existem outros que escrevem para mim.
E eles nem sabem que eu existo.
Não sabem que eu leio seus textos, que me emociono com o que criam.
Conseguem esse efeito porque não pensam em mim.
Esse é o segredo, que finalmente entendi.
Os outros não existem.
São criação minha.
Eles vivem aqui dentro.
São minha desculpa.
São arrogantes, exigentes e cruéis.
Não escrevo mais para eles.
Nem ninguém.
Como os verdadeiros outros, escrevo primeiramente para mim.